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Nunca fui muito de ler
correspondências literárias, mas talvez por ter brevemente lidado com Jorge de
Sena, e apreciar a sua prosa, a curiosidade levou-me a lê-lo. Da tarde da passada
sexta-feira, até esta madrugada. Torcendo o nariz numa ou noutra passagem,
divertido com as cortesias de ambos os correspondentes e o veneno de Sena, de que ficam
aqui dois exemplos:
Menino do Restelo, diz
ele dos colegas da presença -
com minúscula: "essa gente que toda conheci como mesquinha e
dúplice...nenhum se aristocratizou como artista para cima do balcão de secos e
molhados, ou de ourives, com que os pais lhe pagaram os estudos que fizeram ou
não. Foram a chegada da pequena-burguesia, provinciana e rasca, à
literatura" (pág. 295).
" A desgraça
portuguesa é sermos, com raras excepções, um país de putas, ou de filhos da
puta, ou de sujeitos que acumulam as duas qualidades. Ainda por cima nem de
grande cidade: todas e todos de Vila do Conde, Vila Real, profundas dos
Alentejos, sem terem perdido o ranço de lojistas ou a malícia dos campónios.
Porra para a classe média promovida das províncias, que nunca soube
aristocratizar-se, nem tomar banho senão para ir à missa." (pág.301)
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A vaidade de Eugénio de Andrade enfastia.