domingo, novembro 1

O pasmo

(Clique)

Talvez porque as suas vidas e emoções são lineares ou, de medo, se limitam ao mínimo de vivências, sempre me surpreende a maneira como certas pessoas recusam o maravilhoso, o inesperado. Se desconhecem o fenómeno ou o sentimento, se a sua experiência, por pouca, não lhes permite ver mais, compreender mais, atiram um "não pode ser", e é caso arrumado.
Por simpatia, entusiasmo, às vezes imaginando uma concordância, ainda partilho  surpresas que tive, um bem inesperado que me coube, mas no geral a expressão do interlocutor contradiz a neutral cortesia das palavras que profere, vejo-o a reagir com uma indiferença de acólito.
Sou assim levado a pensar que as aparências enganam. As pessoas afirmam que se maravilham, mas raro com aquilo que, genuíno e próximo, sinceramente lhes é dado. O verdadeiro pasmo guardam-no para o que é artificial e a ficção lhes oferece: a cores, em ecrã gigante, tridimensional, com efeitos sonoros.