(Clque)
Por volta dos dezoito tinha atrás de mim dez anos de uma
voracidade de leitura diária e nocturna, acompanhada do clássico "ainda
ficas cego com tanto ler", ameaça que nada me dizia. Dos grandes da
literatura e de tudo o que fosse papel impresso, guiado também por gente que
entendia do assunto, quis então passar dos dramas de Balzac e Zola para as
obras de sociologia.
Novato, meti os dentes na Psicologia das Multidões (1895), de Gustave Le Bon; na Divisão do Trabalho na Sociedade (1893),
de Durkheim; O Capital (1867) de Marx;
O Manifesto Comunista (1848), de Marx
e Engels, e Deus sabe quantas obras mais que vagamente compreendia.
O verniz desse conhecimento estalava depressa,
trazendo-me a vantagem da modéstia e da humildade das opiniões que desde então
me arrisco a fazer.
Também andei por Raymond Aron, Baudrillard, Foucault,
Bourdieu, Lacan, mas esses e outros, ora estavam em craveira demasiado alta,
ora se me apresentavam com nebulosidades próximas da charlatanice.
Passados os sessenta dei por mim a filtrar melhor a minha
permanente sede de leitura e aprendizagem, se uma ou outra vez por acaso me
entusiasmo cuido logo de procurar um contrapeso
Recentemente andaram amigos e conhecidos a insistir que
não perdesse o Pikkety, mas dou-me alegremente conta que essa moda também já
passou. Do malabarista Varoufakis, salvador da Grécia, idem, nada oiço.
Todavia, desde há ano e pico boas almas insistem que é
hora de me deitar a ler Slavoj Zizek, o filósofo esloveno muito querido daquela
esquerda que nos há-de trazer a salvação vestida à Mao e com acessórios Prada.
Por cortesia fui espreitar. Não aprofundei, mas o acaso
levou-me a um artigo em que Zizek, falando de cerveja sem álcool, aponta para
"o carácter paradoxal de um semelhante bem de consumo, tipicamente
capitalista".
Despedi-me. Para repousar fui reler Thinkers of the New Left (1985), de Roger Scruton, agora em edição
actualizada, com um capítulo dedicado a Zizek e o interessante título Fools, Frauds and Firebrands.
Recomendo .
Recomendo .