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O caso Sócrates, único na história do país, possui os ingredientes que fazem morder de inveja qualquer romancista, mesmo aquele com provas dadas de ser capaz no imaginar de um enredo.
Tem suspense, interessantes peripécias,
detalhes picantes, episódios cómicos, suspeitas, mistérios, envolve figuras
históricas, personagens de relevo e gente baixa, decorre num ambiente inacessível
ao comum, alude-se nele a milhões, entrosa no historial da sociedade, toca
institutos de fama secular e outros de reputação duvidosa, negócios escuros, favores, contratos mirabolantes.
Há ali poses que lembram o
jovem Eugène de Rastignac, personagem de Balzac, que dum alto, avistando Paris
ao longe, lhe grita: "A nous deux maintenant!"
Como nas tragédias gregas,
nas óperas de Verdi, na West Side Story
de Bernstein, num sem conta de filmes de
cowboys, enfrentam-se os campos com a
sanha e a cegueira que só nas ocasiões históricas tem lugar.
Que espectáculo! Raiva,
desdém, ódio, idolatria, adulação fanatismo, ataques e contra-ataques,
esperanças, temores!
Lia-se dias atrás o
comentário de que "ainda a procissão vai no adro", e provavelmente
assim é. Resta saber se quando ela entrar na igreja e, acabada a reza, o padre pronunciar
o Ite, missa est, em que estado de alma retomaremos o dia-a-dia.