sábado, março 28

O caso Sócrates

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O caso Sócrates, único na história do país, possui os ingredientes que fazem morder de inveja qualquer romancista, mesmo aquele com provas dadas de ser capaz no imaginar de um enredo.
Tem suspense, interessantes peripécias, detalhes picantes, episódios cómicos, suspeitas, mistérios, envolve figuras históricas, personagens de relevo e gente baixa, decorre num ambiente inacessível ao comum, alude-se nele a milhões, entrosa no historial da sociedade, toca institutos de fama secular e outros de reputação duvidosa, negócios escuros, favores, contratos mirabolantes.
Há ali poses que lembram o jovem Eugène de Rastignac, personagem de Balzac, que dum alto, avistando Paris ao longe, lhe grita: "A nous deux maintenant!"
Como nas tragédias gregas, nas óperas de Verdi, na West Side Story de Bernstein, num sem conta de filmes de cowboys, enfrentam-se os campos com a sanha e a cegueira que só nas ocasiões históricas tem lugar.
Que espectáculo! Raiva, desdém, ódio, idolatria, adulação fanatismo, ataques e contra-ataques, esperanças, temores!
Lia-se dias atrás o comentário de que "ainda a procissão vai no adro", e provavelmente assim é. Resta saber se quando ela entrar na igreja e, acabada a reza, o padre pronunciar o Ite, missa est, em que estado de alma retomaremos o dia-a-dia.