(Paul Gauguin - The Loss of Virginity)
Lêem-se aquelas histórias de
núpcias em países remotos e sociedades bárbaras, a orgulhosa mãe da jovem
esposa a pendurar na janela o lençol manchado de sangue, dando assim prova da
virgindade nessa noite perdida.
Além de que vai diminuindo
o interesse e a valor do símbolo, e a juventude das sociedades ditas
civilizadas há muito se dá conta dos benefícios da promiscuidade, certo é que
na vida, no cinema e na literatura, a problemática da virgindade e dos escolhos sentimentais e carnais da primeira cópula pouco interesse desperta.
Mas ouve-se de vez em quando
uma história de núpcias burlescas, de desleixo, de bruteza, desencontros que
acabam em tragédia. A que segue foi-me confidenciada há uma vida, estava
esquecida, veio à tona ao ler as dramáticas núpcias que John Edward
Williams narra em Stoner (*)
Esse par que conheci era
estranhamente desigual. Ele, espalhafatoso, fanfarrão, indiferente ao resultado
da sua jactância, enquanto ela, retraída por natureza e educação, era o oposto.
A noite de núpcias foi um
drama: um a julgar-se com direitos de senhor, o outro defendendo-se da
violência do assalto. A segunda noite foi idêntica. À terceira foram dormir em quartos
separados, e assim continuariam até ao divórcio dois anos depois.
Essa parte tinha-ma
ele contado mais tarde, de novo casado, infeliz, perplexo de que também o segundo
casamento lhe corresse mal.
O que muito depois ouvi, e
ele nunca viria a saber, é que temendo a violência de ser desflorada, ela pouco
tempo antes tinha pedido a um cirurgião amigo que lhe cortasse o hímen, só então se dando conta que o noivo iria suspeitar que não fosse virgem. Tempo
para explicar não tinha tido, e nessa noite era tarde demais.
………….
(*) Stoner é um livro a não perder.