"Os capitães do 25 de Abril trouxeram-nos a democracia e a liberdade, devemos agradecer-lhes".
Oiço isso a pessoas sinceramente enternecidas, e de facto
assim foi, duma maneira ou doutra os capitães accionaram a mudança de regime.
Ao
mesmo tempo toma-me a melancolia, porque o agradecimento assemelha-se muito ao
de um favor recebido, não ao de direitos conquistados pela própria acção. Alguém
se mexeu, o resto esperou, a sequência conhecemo-la todos.
É assim que, mau grado a liberdade, não me parece que a
apatia geral seja diferente da que testemunhei durante o salazarismo. A nação,
mais uma vez, como tantas outras ao longo da sua História, parte dela foge, o resto espera que alguém se
mexa, a sacuda e tire da sonolência.
Mas os "capitães" estão reformados, e os banqueiros até a
própria mãe vendem, quanto mais a pátria alheia. Por isso me pergunto se não
haverá por aí um grupo de gente de saber, honra e vontade, que se levante, que diga que
Portugal não merece o que lhe aconteceu, nem o que lhe acontece, e que é
urgente, muito urgente, mudar?
Com a fé que me resta mandava rezar uma missa em acção
de graças.