quinta-feira, outubro 31

A rosa dos ventos


"Tenho amigos da esquerda e da direita." Frase recorrente, tantas vezes lida e ouvida que involuntariamente lhe esqueço o significado e me ponho a magicar no que subentende.
Garantias não dá, cabe na mesma lista daquela outra, "também tenho amigos homossexuais",  a ênfase do também a reforçar a existência de uma imaginária virtude.
É coisa do princípio do meu mundo, a arrelia que tenho com a chamada classe média portuguesa, corpo social amorfo que por baixo toca o povinho, e na outra ponta se quer fidalga, esquecendo, ou ignorando, que o verdadeiro brasão não se herda nem se compra, ganha-se.
A essa classe de gente, que vai do Zé da Mouca a D. Francisco de Rodrigães Penha d'Alembourg e Castedo, pouco me custaria fechar os olhos à vaidade, à jactância, ao egoísmo de que dá  mostras e provas, à infantilidade do comportamento, ao grotesco da sua necessidade de imitar.
O que não lhe perdoo é a alma de merceeiro, o espírito mercantil, a escassez de vergonha, a  ganância de comer a dois carrilhos, a habilidade de ter amigos em todos os pontos da rosa dos ventos.