Melhor ou pior, uns mais, outros menos, vivemos as histórias que nos contamos, as que mentimos, as que nos ajudam e, por vezes, in extremis nos salvam.
Infeliz, o que vive sem imaginação, aquele
que por horizonte e esperança só tem o que os olhos alcançam. Cego por dentro,
tudo lhe parece fronteira, obstáculo, razão de desistência.
Pedro M. não é desses. A findar os
cinquenta, trinta de casado, pai, avô, sem aflições ou queixas de maior, possui
uma forte certeza: para alcançar basta querer.
Afirma-o em voz alta, e constantemente o pensa
desde que conheceu a Rosalia, a extraordinária galega casada com o Abreu.
Entontece ao imaginar o alarve com ela na
cama. Entontece na praia. Retesa os músculos, a impedir-se de lhe arrancar o
biquíni. Entra no café e logo se dá conta: parece limalha atraída pelo íman.
- Buenos
dias, Rosalia.
O desnecessário espanhol usa-o ele como
mostra de ternura, e o beijo na face, um nadinha mais longo do que o preciso, é
código fácil de decifrar .
Um dia atreve-se. Falarão de livros e vê-a
já interessada, curiosa. Para que não fique arisca só depois dirá que o leu no Kamasutra.
Nada de erótico, tem mais a ver com uma sensação de calor e alívio, um
sentimento de bem-estar.
Tomará um ar sério, quase científico, para dizer
que se aplica a unha do indicador num ponto muito preciso da nuca da outra
pessoa e, fazendo um mínimo de pressão, raspa-se ligeiramente na vertical. Uns
cinco centímetros. O resultado é incrível, o corpo parece levitar, alcança um
estado de serenidade que excede de longe o dos exercícios de ioga. Tudo depende, mas por vezes…
Não decidiu como irá continuar, mas uma
certeza tem.