Naboukov, que sabia de escrita, torcia o
nariz a Finnegans Wake. Há mais, mas
a maioria cala-se – que é a linguagem da torre de marfim. Gente de Dublin e Retrato do
Artista, ambos bons, mas nada de especial como personagens, história, ou
arte de contar.
Li Ulysses,
por volta dos vinte e pouco, depois já passados os quarenta. Duas vezes, leitura
espaçada, com muito esforço, a segunda foi a mais proveitosa. Anos depois, em
voz alta, li vários capítulos ao azar. E de facto a musicalidade surpreendeu-me.
Isso foi há mais de cinquenta anos, não voltei nem volto a pegar-lhe.
Vergonha não senti. Descobri, sim, que
Joyce tinha um saber da Literatura, dos assuntos da Igreja e da Mitologia, que
estavam, e estariam, fora do meu alcance. Finnegans
Wake não me dizia nada, pus de parte. No que respeita a Crítica, de muito
novo arranjei um "faro" que me protege dos seus pontífices, e ajuda a
separar o trigo do jóio.
Cânone? Assunto de eleitos, quando
conversam de torre para torre.
Finnegans
Wake é caso extremo, mas há muito que me irrita: Neo-Realismo, Nouveau Roman. Se recordo a fama que essa gente teve, e como estão
literariamente defuntos, diverte-me que depois de tomar conhecimento dessas obras alegremente as pus de
lado.
Um livro com que (quase) toda a gente se
embasbaca, compreende, e com ele se voa para regiões superiores do espírito, mas não
consigo ler até ao fim: Moby Dick. O
que prova que a culpa não é do livro, mas do leitor: não posso ter razão contra
os milhões de anónimos e os grandes espíritos que o reverenciam.