Fui ao banco, não para acertar contas ou fazer depósitos, mas pelo hábito antigo e provinciano de dois dedos de conversa.
Desapareceu o longo balcão, agora são tudo cubículos de vidro fosco e aparelhagens automáticas, televisões no tecto a intercalar avisos - "O seu número: 114" - com sorrisos e percentagens de poupança. Os clientes andam por ali hesitantes, alheados, a precisar ajuda, que aquilo é informação eficiente, mas fria e distante na sua precisão. Já não se toma o cafezinho à secretária do funcionário amigo.
Felizmente, mesmo sem cafezinho e entre duas pressas, ainda se conversa. Conversámos dos podres da política, da ladroagem dos mandantes, acenámos que sim, ninguém sabe onde isto irá parar, se fosse como na Grécia já tinha havido bombas e mortos. Deus nos livre!
- Lá na Holanda também há crise?
- Nada que tire o sono ou obrigue a comer menos.
- Julguei… Digo isto porque antigamente vinha muito dinheiro de fora e agora nota-se que os emigrantes o transferem para lá.
Os nossos olhares cruzaram-se no relógio digital e concordámos que estava a chegar a hora do almoço.
Senhores analistas, comentadores, deputados, profetas das soluções para a crise - crise? miséria – economistas e politólogos, estrategas de café, atentem no aviso: não são ratos a abandonar o navio que se afunda, são aqueles que suam no trabalho e fogem com o dinheiro que lhes custou muito a ganhar, pondo-o a salvo da rapinagem.