sábado, janeiro 24

Temporal

Foi temporal. Umas catorze horas ininterruptas. Temeroso, porque por estes lados, desde as telhas às pessoas, as árvores e as antenas, as pocilgas, os muros, os galinheiros, tudo é caduco, frágil, há décadas a apodrecer. E com um vento assim, tanta chuva, desequilibram-se os idosos, voam os alpendres, a electricidade falha, cai a noite, volta a escuridão que antigamente se chamava de breu.
Um negrume que assusta, mas ao mesmo tempo chama a lembrança dos medos da infância, os melhores. Os do cinema: tremia-se no escuro, mas depois, quando as luzes se acendiam, sabia-se que tinha sido a brincar.