terça-feira, maio 6

Verdades

Uma vez não são vezes, por isso abro a excepção, mesmo sendo o caso exemplar do que os ingleses referem como much ado about nothing, que é como quem diz: muito vento e pouco movimento.
De facto este blog teve, mas já não tem, caixa de comentários. A experiência mostrou-me as desvantagens da dita caixa, sobretudo a de dar livre entrada a tolos. Gente bem intencionada faz como o senhor Manuel de Queiroz: manda um mail e é logo atendido pela volta da internet.
Tomou ele sombra com um texto –“O Paço da Glória em Arcos de Valdevez”- que aqui publiquei em 28 de Fevereiro passado, texto esse “cheio de incorrecções e histórias fantasiosas sem qualquer base nem rigor”. Curiosamente apenas contesta o que se refere ao seu parente. É essa a sua “verdade”. A minha “verdade”é a que ouvi a lord William Pitt. A verdadeira verdade encontra-se provavelmente numa ranhura entre as duas anteriores.
Como acima digo, uma vez não são vezes. Pelo que não haverá réplica, nem discussão.
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Onderwerp:
Paço da Glória
Van:
"Manuel de Queiroz"
Datum:
Di, 6 mei, 2008 13:27
Aan:
jrentes@xs4all.nl

CC:
"Luiz Azeredo Vaz Pinto" (meer)
Opties:
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Caro Senhor:

O actual proprietário do Paço da Glória, Sr. Robert Illing, fez-me chegar um post,publicado no seu blogue em Fevereiro deste ano (que infelizmente ao contrário do quecostuma acontecer, não permite fazer comentários aos textos), sobre o dito Paço.
Porque esse texto está cheio de incorrecções e histórias fantasiosas sem qualquer base nem rigor, decidi escrever-lhe para o esclarecer e aos seus leitores, em particular em relação à figura do meu tio-avô Aleixo de Queiroz Ribeiro, escultor,Conde de Santa Eulália, que foi um dos proprietários da casa.
Segundo informação recolhida por Robert Illing na Conservatória do Registo Predial dos Arcos de Valdevez, o primeiro registo que há da Quinta da Glória é de 1730,sendo seu proprietário Francisco de Araújo e Amorim, sem filhos. Desde então até 1909 esteve esta entregue a caseiros, altura em que, sendo seu proprietário Francisco Pereira de Castro e estando hipotecada, a hipoteca foi comprada por Aleixo de Queiroz Ribeiro, escultor, consul de Portugal em Chicago, Conde de Santa Eulália.
Sobre a extraordinária figura deste artista e homem do mundo, acabo de publicar o romance "Os Passos da Glória", editado pela Bertrand. Para o escrever levei a cabo uma investigação aprofundada sobre a sua vida e o seu percurso artístico que permitiu esclarecer muitos dos equívocos e controvérsias que rodeavam o seu nome.
Por isso posso afirmar com segurança que tudo o que sobre ele diz no seu texto é falso, fantasioso e sem qualquer correspondência nos factos. Senão, vejamos:
Ao contrário do que diz, ele foi escultor e não pintor, actividade que manteve toda a sua vida com paixão, tendo estudado em Paris nas melhores escolas a sua arte durante quase dez anos . Dessa actividade resultou uma obra interessantíssima,embora hoje quase desconhecida, tanto em Paris como em Portugal e nos Estados Unidos da América, a qual vai de resto vai ser alvo de uma exposição no início do próximo ano em Viana do Castelo. Como exemplos da arte de Queiroz Ribeiro em Portugal,pode ser vista a belíssima estátua do Sagrado Coração de Jesus junto ao Templo de Santa
Luzia, em Viana do Castelo, e a estátua de Vasco da Gama nos jardins do Mosteiro de Refóios, embora esta esteja actualmente em muito mau estado de conservação.
Foi em 1902 e não em 1907 como refere, que Queiroz Ribeiro partiu para os EUA, para trabalhar na exposição de St. Louis Missouri, realizada em 1904. Em 1905 foi nomeado consul de Portugal em Chicago e em 1906 foi-lhe atribuído pelo Rei D. Carlos o título de Conde de Santa Eulália. O seu casamento com Sarah Elizabeth Stetson, viúva do multimilionário e filantropo John B. Stetson, dono da maior fábrica de chapéus do
mundo, a Stetson Hats& Company, teve lugar em 1908. A compra da Quinta da Glória,que então passou a designar-se como Paço da Glória, ocorreu em 1909, um ano depois do casamento, tendo a casa sido toda restaurada por Aleixo para aí receber condignamente a sua mulher sempre que vinha a Portugal, o que, ao contrário do que diz, aconteceu por diversas vezes, quer antes quer depois da morte do marido,ocorrida em 1917.
Elizabeth tinha dois filhos do seu primeiro casamento, os quais, após a morte dela,em 1929, herdaram as suas propriedades em Portugal, John Stetson o Mosteiro de Refóios e G. Henry o Paço da Glória. Este último, no entanto, desinteressou-se por completo da propriedade, deixando de pagar os impostos devidos, pelo que esta acabou por ir a hasta pública, tendo sido arrematada em 1937 por William Pitt.
Esta é, resumidamente, a verdade dos factos sobre o Paço da Glória e sobre Aleixo de Queiroz Ribeiro. Agradecia pois que incluisse esta nota no Blogue como rectificação ao seu texto, esclarecendo assim devidamente os leitores.

Com os melhores cumprimentos

Manuel de Queiroz