Em 1940, quando os tempos eram simples, o meu amigo, então jovem delegado no tribunal de Mogadouro, deslocou-se um dia em serviço ao Vimioso, acompanhado de um colega.
Para quem sabe pouco de terras e usos, diga-se que Vimioso fica no nordeste transmontano, mais ou menos a norte de Mogadouro e, também mais ou menos, a meio caminho entre Miranda e Bragança. Os transmontanos destes lados não vão a Vimioso, mas ao Vimioso.
Saídos a cavalo de madrugada, chegaram ao destino à hora do almoço e, quando perguntaram onde se comia, indicaram-lhes um estabelecimento de curioso nome em tempo de ditadura: a Pensão Liberdade.
Recebeu-os a dona:
- Almoço para dois? Não posso! Tenho cá o chefe da Tesouraria, o tenente da Guarda e o doutor Pedro… Só faço almoço p’ra eles.
- Mas não nos arranja uns bifes com umas batatas fritas?...
- Ai! Batatas fritas! Ao preço que o azeite está!...
- Mas oiça!...
- Batatas fritas neste tempo! O azeite!... Quem o pode pagar?...
Demorou a transacção, mas finalmente aceitou ela grelhar a carne, concordaram eles que as batatas fossem cozidas.