segunda-feira, fevereiro 25

Camposancos

Camposancos. Vê-se daqui da praia, porque fica do outro lado, defronte de Caminha.
Tempo do meu passado. Quando conhecia a palmo ambas as margens do rio, que ambas tinham sido para mim o cenário das emoções memoráveis da juventude. O primeiro amor de adolescen­te, a pri­meira fuga, as travessias do rio nas noites sem lua, que fazíamos pelo gosto do perigo, sabendo que do lado espanhol, e mais por divertimen­to que por zelo, os homens da Guardia Civil não hesitavam a atirar a sério.
Campo­sancos. Ainda hoje sou capaz de ir direito à casa de Don Ignaci­o, o bondoso cura que nos dava maçãs do seu passal - “Se não as dou, vêm-mas rou­bar!”- e infalivel­mente queria saber se tínhamos ido à con­fissão, se não esquecíamos a comun­ga.
Recordo também Don Fran­cisco, o padre de Goián, mais novo, magro que nem uma garça, passean­do a ler o bre­viário na estra­da onde só de longe a longe aparecia um carro.
Açulados que nem matilha de cães com cio, quando nos cruzáva­mos víamo-lo fazer no ar um sinal da cruz facet­o, talvez tanto para nos abençoar, como em exor­cismo às ten­tações com que o atormentava o Demo, e mais tarde fariam dele um assas­sino.
A serração de Tabagón. Uma chaminé que se vê de quiló­met­ros ao redor, e para mim era um duplo farol: na grande casa anexa viviam Don Ramón, meu herói, e Rosalia, a irmã mais nova, dezasseis anos como eu, mas infinitamente mais sabida, e que, maldosa, atiçava na minha alma e no meu corpo as grandes labaredas da paixão.