sexta-feira, novembro 19

Aquilo é comigo.

 

Como se sabe, as cartas que se rasgam são as que valeria a pena guardar, as histórias que se escondem dariam um romance de escrita mais despachada do que aquele em que, temendo ofender, o autor laboriosamente mistura realidade e ficção.

Dessas histórias tenho umas quantas, personagens interessantes abundam à minha volta, acontece apenas que raro encontro jeito de lhes disfarçar o aspecto, os tiques e as peripécias,  componentes indispensáveis para o enredo.

Se numa história ou cena para este blogue arrisco um traço de carácter, aponto um trejeito, um modo de pronúncia, uma bizarria de vestuário, pouco tarda a que alguém jure que aquilo tem a ver consigo. Por vezes com a arrevesada argumentação dos desequilibrados, mas também  gente em seu juízo afirma a sério que não pode ser coincidência, a coisa tem aspecto de afronta deliberada e malquerer.

De modo que, em vez de trabalhar como fazia antes de manter este blogue, agora tudo me são empecilhos e entraves, cheguei ao ponto em que em vez de ir com a prosa por diante e mandar a sensibilidade alheia às favas, perco tempo e feitio a passar em revista a galeria dos conhecidos, não vá por descuido pisar-lhes os calos.

E posso afirmá-lo por experiência: muito sensíveis,ou cheios de si, são certos calos.