quinta-feira, junho 20

"O Buraco" em Estevais


Dum lado a encosta é quase a pique, mas tempo houve em que por ali andou gente, pois entre silvedos e azevinhos aparece uma ou outra amendoeira, o tronco retorcido de oliveiras seculares. O matagal há muito tomou conta e estende-se irregular, agreste, um cobertor de sombria verdura.
A ribeira, lá no fundo, não se vê, só apurando o ouvido se lhe distingue o sussurro  por entre o chilrear da passarada.
O lado oposto é de espectáculo. Fragas negras, amontoadas na vertical, criando paredões e torres, dando ideia de fortaleza inacabada. Tudo inacessível, gigantesco, estranho, inóspito, ameaçador. Nunca ali tocou pé ou mão, o que arriscasse não sairia vivo, em lugar assim só asa de abutre ou coleio de serpente.
Assombra pela feiura e o negrume, contam os antigos que sempre foi sítio de feitiçarias, em certas noites aparece lá a "Vergadinha", uma abetarda com focinho de cão, asas pretas e olhos amarelos, que ao voar chora como criança.