sábado, junho 15

A hora de mudança

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Por ter passado da idade e gostar doutros entreténs, desculpa a todos, mas a televisão que vejo é pouca, em geral ao acaso do almoço no restaurante, onde sabiamente a entronizaram.
Fabriqueta de ilusões e pseudonotícias, trégua para casais desavindos, passatempo dos solitários, deita-se-lhe um olhar e a atenção fugaz regista mais um crime, outro acidente com carros em frangalhos, o assalto ao idoso, o fogo, a inundação.
Repete-se a garfada, mastiga-se, bebe-se um gole. O fogo continua a arder, o idoso a queixar-se, a inundação a subir. Nos minutos de futebol há um recolhimento de fiéis na igreja, que logo diminui à mostra dos políticos a debater no parlamento.
Para mim o momento de adiar a sobremesa. Porque aquilo é teatro, muito mau teatro, com gestos, carantonhas, remoques que num salão de festas poriam a assistência aos urros e às patadas.
Teatro do absurdo, mas por isso mesmo de excepção e valor, pois eles nos representam, neles delegámos. Sem interesse o que gritam, inconsequente o que barafustam, fingidas as raivas, roscofe as concordâncias e oposições, contudo é naquele triste espectáculo que nos deveríamos rever e interrogarmo-nos porque aceitamos ser assim, e porque razão tarda a hora de mudança.