À escala nacional, com mais de 25.000 exemplares vendidos em poucos meses, o “2666” de Bolaño foi um êxito.
Incensou-se, falou-se dele no tom que em geral se usa para as aparições, os milagres e outros fenómenos que espantam. Mas agora aparecem aqui e ali uns rapazes a queixar-se de que o não conseguem ler, que aquilo é um enfado, com muitos sonhos, repetições, fastios, e inúmeras pontas, mas nenhuma por onde se lhe pegue.
Tempos atrás, numa livraria, corri os olhos por umas quantas páginas, parei aqui e acolá, mas como não fui adiante com a leitura não tenho base para opinião. Facto é que o que respiguei não me entusiasmou, mas como há muito quem caia de joelhos ao ler Murakamis, Szymborskas, Achebes e mais Prousts, tiro respeitosamente o chapéu e vou adiante, recordando a antiga certeza da diversidade dos gostos.
O que me surpreende, porém, é que gente com tarimba nas coisas de leitura e Literatura se queixe e sinta enganada ao dar-se conta de que a fama do chileno e doutros não corresponde ao proveito. Mas que esperavam? Serão inocentes a ponto de se julgarem imunes às consequências do marketing? Acreditarão que um louvor no New York Times, no El País, no TLS, ou na NYRB é garantia de génio e qualidade?
Um livro, meus queridos, é bom e vale quando nos fala ao coração. Se vem com charanga, tambores e foguetório, deixá-lo passar.