domingo, janeiro 4

Desabafo

Pelo domingo não é, que amanheceu soalheiro. Com a melancolia também posso, porque há muito me habituei a ela. De saúde vou bem, da disposição em geral idem, e ultimamente têm-me sido poupados aqueles pontapés da sorte que deixam marcas.

Por isso se pensará que não tenho motivo para queixas, e contudo sinto-me hoje aborrecido. A ponto que nem na música, na leitura, na paisagem ou no ramerrão doméstico encontro desafogo.

É que, por vezes, o meu semelhante não somente desafia a lógica que se supõe deve existir no funcionamento das relações, como parece querer medir forças para descobrir no outro, em mim, a brecha que lhe permita, se não o domínio, pelo menos a influência.

De modo que, por que me atenho à lógica do trato social e à conveniência das boas maneiras, além de que crueldade voluntária não é comigo, sinto-me aborrecido. E os desabafos, se aliviam, infelizmente não curam nem diminuem a memória.

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PS. Não vá o Diabo tecê-las: a carapuça nem a todos serve.