Teria uns dezasseis anos quando li A Selva, de
Ferreira de Castro. Fez-me impressão, porque me tinham dito que era livro para
ler e ficar impressionado.
Com andanças e mudanças o velho exemplar perdeu-se.
Comprei depois outro, que não reli, pois as folhas continuam por cortar. Foi
esse que há pouco me avivou a memória.
Uma tarde, num café em Paris, no começo dos anos 60,
um amigo apresentou-me ao autor. Nessa altura era já pouco o que me
impressionava, e Ferreira de Castro deu-me, sobretudo, a impressão de um senhor
preocupado em excesso com a carestia da vida, os achaques do seu corpo e a
necessidade de ir a Vichy para as águas.
Em determinado momento conversou-se sobre a rapina dos
editores, e Ferreira de Castro contou então que, para garantir que os
exemplares vendidos fossem devidamente facturados, mandava carimbar em todos o
seu ex-libris.
Fui verificar no exemplar das folhas intactas, e de
facto lá está. Também me pergunto quem terá carimbado as muitas dezenas de
milhar de livros do autor d’A Selva. De um escritor de tiragens mais
modestas sei eu que, quando isso ainda se fazia, sentava-se ele próprio na
tipografia, de carimbo na mão.