sexta-feira, dezembro 30

O livro do arquitecto

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Autor de O Último Verão na Ria Formosa, o qual, ouviu-se então nos mentideros, quase lhe valeu o Nobel, o arquitecto Saraiva publicou em Setembro passado Eu E Os Políticos. Desopilante numa ou noutra passagem, mas com suficiente ranço para da parte de alguns justificar pensamentos menos cordatos. Todavia, é de justiça que, pela involuntária ternura que demonstra, se refira aqui o apontamento que faz na página 45, de ter conhecido o nosso Primeiro Ministro, então "um miúdo pequenino, a brincar debaixo da mesa onde comíamos… e que a mãe tratava por Babouche".
Com o significado de pantufa ou chinelo, a palavra babucha vem-nos do árabe, li-a pela primeira vez n' A Relíquia, de Eça de Queiroz, refere-a ele também  nos relatos sobre o Egipto e a Terra Santa. Mas em francês, babouche, além de soar  requintada, parece exprimir em simultâneo uma rechonchuda bonomia, dando ideia de o carinhoso apelativo ter sido singularmente premonitório.
Na verdade, de todos os Primeiros Ministros desde Abril de 74, só em Mário Soares se encontra aquela maneira de abraçar. O caso é que António Costa leva a melhor  na jovialidade e no optimismo.
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Publicado no CM