segunda-feira, novembro 25

Viajantes

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Como sempre fazem, a Marizé e o Alberto telefonaram a dizer que correu tudo bem. Estiveram na Argentina, Bolívia, Paraguai, passaram no Iguaçu deram uma volta pelo Pantanal, mas ainda nem desfizeram as malas, por isso só depois de amanhã, ao fim da tarde, virão de visita para contar tudo.
Desanimadora perspectiva. Na segunda metade dos anos 90 este simpático casal descobriu o feitiço das viagens, e assim, ela dentista, ele com umas quantas garagens, o muito tempo livre que a desafogada existência lhes proporciona, gastam-no a ver mundo.
Nada a censurar, bem ao contrário, eles próprios aludem de vez em quando aos benefícios do  turismo para a economia dos países pobres, fora o impacto positivo que a presença de turistas tem na mentalidade e nos hábitos das populações atrasadas.
Aceno que sim, pois ambos são gente agarrada ao bem fundado  das suas opiniões, ademais avessos a debates e discordâncias. Também típica de ambos, repetida ao longo do tempo e, graças a Deus, nunca realizada, é a promessa de trazerem os vídeos e as fotografias que querem pôr na internet.
Delicados, boa gente, facilmente se passa a esponja sobre as suas pequeninas falhas e idiossincrasias, embora uma destas custe a digerir.
Seja a Galleria degli Uffizi em Florença, o Hermitage de São Petersburgo, a Cordilheira dos Andes, o Taj Mahal, o gelo do Alasca, a selva africana, os mosteiros da Grécia, a paisagem da Anatólia, perguntados sobre tudo isso e o muito mais que já viram, só se lhes tira um comentário: "É muito bonito! Gostámos muito!"
Nessas ocasiões, reprimindo o bocejo, fazendo de modo que a expressão do rosto não traia o pensamento, pergunto-me de que adianta tanta viagem para tão pequeninas cabeças.