Assisti hoje a
uma cerimónia fúnebre em que se disseram sobre o defunto, carinhosas e sentidas
palavras. Não das superficiais, das do preceito que aos mortos só se devem elogios,
mas palavras sinceras de amizade e admiração, comemorando este um momento
festivo, citando outro um dito memorável, um poema.
Tocou-se, coisa
rara, bela música medieval. Incomum foi também ouvir os risos provocados pela lembrança
de uma cena hílare, e que ali se lhe prestasse homenagem com longo aplauso e
ovação de pé.
Lá onde está deve ter apreciado, pois era rebelde e iconoclasta,
poeta de raro talento, crítico acerbo de gregos e troianos, justamente temido
pelo veneno das setas que disparava e raro falhavam o alvo.
Durante um pouco
mais de quatro anos foi sincera e íntima a nossa amizade. Depois cortei eu o
laço. Dias atrás, recebi, chocado, a nova da sua morte. E hoje, na despedida,
com pena recordei, não apenas a sua, mas as amizades que ao longo da vida se
perdem e deixam um vazio.