Ventania, chuva, frio polar. A noite vai cair. Se neste momento a filmassem, a única rua da aldeia valeria como imagem de um mundo que acabou. Nem cães se vêem.
Os citadinos que desconhecem este viver idealizam famílias harmoniosas em volta da lareira, falam de “achas e toros a crepitar alegremente”, de alheiras assadas, risos, copos de bom vinho, histórias de antigamente.
Se o acaso os trouxesse hoje para estas bandas, pronto lhes passaria o romantismo, e de certeza deitavam a fugir. Eu próprio, se me apetecesse, poderia encontrar outro poiso. Mas não é isso que conta. Conta o invisível, temeroso cárcere em que as aldeias moribundas se tornam, a tragédia dos que nelas aguardam que, sem mais dor, a morte os liberte da pena perpétua.