quarta-feira, setembro 5

Pranto

Sabia-o por vê-lo e incomodava-me sobremodo, as pessoas de idade que por um sofrimento pequenino, a ocasião de uma visita ou despedida, deixavam que os olhos se lhes marejassem.
Além de uma inconveniência, parecia-me ridículo, absurdo e, corando de vergonha recordava de, muitos anos atrás, ter chorado num cinema ao ver Limelight, de Chaplin.
Outras lágrimas, raras, já deixara cair, mas essas não tinham sido de pena ou dor, sim de raiva impotente. Chorão, eu? Jamais!
Era o que pensava, com aquela certeza sobranceira que a ignorância dá. Até que, sorrateiramente, a sentimentalidade se apoderou de mim, ou o passar do tempo enfraqueceu as comportas dos lacrimais.
Uma recordação, uma música, uma criança, um animal que sofre, dores da guerra, dores da fome e da miséria, tragédias, desastres da natureza, tudo isso me humedece os olhos.
Tento couraçar-me. Digo-me que a CNN manipula as imagens, que um filme ou o romance são ficção, que os repórters são parciais, mas pouco adianta. Hoje vêm-me as lágrimas por tudo e nada, até por saber que, para os mais novos, sou eu agora o ancião que os irrita com o seu inesperado pranto.