Ganhou nome logo desde os primeiros escritos e, por razões de política, amizades e simpatias, tornou-se figura emblemática da literatura da oposição.
Pessoalmente correspondia a um certo retrato do escritor boémio, noctívago, forte nos copos, brilhante no chalacear, com relações por todo o lado.
Cada livro seu era acolhido em certos círculos como um acontecimento de importância invulgar, e embora nem o interesse do público nem as vendas correspondessem à expectativa, ao longo dos anos tornou-se personagem importante.
A franqueza manda dizer que nunca apreciei o seu estilo, nem os temas que tratava. Ao avesso da opinião corrente, tãopouco descobri nos seus livros daquelas centelhas que denunciam, senão o génio, pelo menos um grande talento. A sua prosa surgia-me corriqueira, os diálogos artificiais, os personagens anémicos, os seus símbolos de uma dolorosa simplicidade.
No correr dos anos, por intermédio de amigos comuns, encontrámo-nos duas vezes - uma terceira não conta, porque apenas trocámos um distraído “Está bom?" - não simpatizámos, e de ambas guardo recordações desagradáveis.
Não fazia dúvida que o homem era inteligente, narrava com verve, e possuía uma excepcional capacidade de se manter no centro da atenção. Mas se o interrompiam, logo o seu rosto parecia esvaziar-se do entusiasmo e, impaciente, puxava fumaças ao cigarro até reganhar a vez.
À mesa era companheiro jovial, só que o vinho e o uísque de pronto lhe faziam perder a bonomia, transformando-o num personagem intratável.
Em ambos os nossos encontros estávamos na companhia doutros, e de ambas as vezes me despedi antes do tempo, temendo que o seu modo se tornasse mais penoso do que o que já era.
Faleceu. Foi um nunca acabar de odes e panegíricos, ditirambos, coroas de louro. Como frequentemente acontece, julgando talvez que ao fazer-lhe honra partilhariam da fama, os admiradores prestaram um mau serviço ao homem e à sua obra, afirmando que com ele desaparecera “um dos maiores, senão o maior escritor do século.”