sábado, junho 8

A Feira do Livro no Porto em 2013

Este ano não há, mas

O FIM DA FEIRA NÃO É O FIM DA FESTA
                                                                                                                                   
Concordem: um aviãozinho a fazer piruetas e a deitar fumo colorido, um futebol, uma corrida de atletas, um comício, uma noite de São João, tudo isso conta para distrair e repousar.
Sabemo-lo nós, sabem-no os autarcas do Porto que, diligentes no descanso do espírito e na necessidade de divertimento dos portuenses, se mostram fiéis seguidores do Panem et Circenses dos imperadores romanos. O pão, infelizmente, terá cada um de ganhar o seu, mas jogos, festas, divertimentos, é com eles.
E assim, embora de mau grado, me vejo a concordar que a Câmara do Porto não apoie a Feira do Livro.
Raro anda ali multidão para encher uma bancada. Não se ouvem tambores, trombetas, castanholas ou apitos, foguete nenhum. Em vez de se agitar em festa, aquela gente ora caminha com o nariz em livros, ora demora nos escaparates, olhando como em transe. É povo que parece não ter aprendido a dar vivas, nem a agitar bandeiras, em vez de dar patadas de entusiasmo move-se com a calma de quem visita a igreja.
Será boato, mas já ouvi que boa porção dos que a visitam são atreitos a pensar pela própria cabeça e gostam de aprender, qualidades que levam à inquietação e daí ao descontentamento,  à rebeldia.

Este era o começo. Ia-me inclinando para o jocoso, mas há risco em ser tomado à letra,  melhor é entrar no assunto e, com simplicidade e respeito, inquirir dos senhores autarcas se, de facto, os cofres da edilidade portuense se encontram depenados a ponto de não haver neles a "migalha" com que contribuíam para Feira.
Acho duvidoso que assim seja. Antes quero crer que os livros, a leitura, a escrita, nem peso-pluma são nas decisões do município, devem-lhe parecer carolice de uns quantos, e que esses quantos melhor emprego dariam ao tempo indo ver aviõezinhos a fumegar.
Tanto como desprezo pela legítima vontade, e o direito dos cidadãos, em prosseguir actividades que lhes aumentem o conhecimento e enriqueçam o intelecto, semelhante atitude denota uma soberba de mandões à moda antiga, a do tempo em que uns poucos riscavam e o resto calava.
Calados já não ficamos, mas no mais pouco mudou, que para mal nosso a democracia ainda vai de muletas e a prepotência continua enraizada. Com o estafado argumento de que não há dinheiro, decide o autarca que a Feira do Livro não se realiza. Mas mostra ele as contas? Os cálculos que fez? Prova aos cidadãos a justeza do que decidiu?
Não mostra nem prova. Decide com arrogância ao gosto da própria vontade, ignorando o tempo em que vive. Porque poderá ter sido eleito pela maioria de uns, mas é sua obrigação atender ao interesse geral.
E as Feiras do Livro não interessam apenas a uns quantos carolas que gostam de ler, mas a todos os que anseiam por algo mais que o superficial, o passageiro.  Interessam sobretudo aos jovens, para quem os livros são janela aberta para o conhecimento, a cidadania, a esperança de viverem numa sociedade harmoniosa nos direitos, nos deveres, no respeito do que contribui para o bem comum. Não se vê de imediato, mas as Feiras do Livro contribuem.