sábado, junho 18

O vazio e o oco


Pelo modo como a vida me tem corrido, questão genética, boas e más experiências, o caso é que me fascina a observação de certo tipo do meu semelhante, aquele que por destino, ou razões suas, leva da infância à cova uma vida de artifício num mundo que, muito  de longe a longe, me acontece roçar.
Falam de festas e metrópoles, cruzeiros, hotéis, o Breitling do primo, a suite do Four Seasons, o Mastino Napoletano que o Vieira tem na quinta, a semana que passaram naquele "fabuloso spa"…
Oiço-os e, como se sonhasse, aparecem-me através de uma névoa, as suas seguranças a contrastar com as minhas dúvidas, a sua jovialidade embatendo nas sombras que tenho. E não é questão de desdém, inveja,  ou animosidade do menos abonado, antes genuína surpresa de que seja possível existir assim, de ilusão em miragem, saltando do vazio para o oco, tomando por mundo a construção imaginada, chamando vida ao pendular dos seus baloiços.
Porém, feitas contas, têm eles mais razão e vantagem em ser assim, do que tenho eu em lhes criticar a superficialidade, pois se este mundo são dois dias melhor é gozá-los.