quarta-feira, julho 14

O nosso "francesismo"


Isto anda cada vez mais literário, mais experimental, mais interessante. Interessante no cómico sentido da palavra.

Dias atrás um jovem e conhecido crítico lastimava que ainda se escrevesse à moda do século passado, mas em minha opinião não se dá ele conta de que já se escreve à moda do futuro, e que a chamada Literatura corre maratonas a ver se apanha a Banda Desenhada. O que no antigamente se chamava diálogo, aparece agora aqui e ali com Grrrs! Vronks! Prruns! e muito “What the fuck!”, que não há como o seu bocadito de Inglês para ter chique e demonstrar que se pertence aos eleitos que voam alto e longe do vulgo.

Compara-se um a Paul Auster, outro encosta-se a Martin Amis, um terceiro sente-se próximo de Bolaño, um quarto abandonou os russos e de momento inclina-se para Murakami. Haruki Murakami, informa ele compenetrado.

Imita-se, falseia-se. Conta-se aos papalvos, e os papalvos apreciam, que só escrevendo em cadernos de Moleskyne e em determinado quarto do Chelsea Hotel, em Nova Iorque, é que se recebem os eflúvios. Em Bali, nas favelas do Rio ou naquela praia de Goa, também serve.

Aborreço-me, pois aborreço, com os livros do ano, e da década, e do génio, com a prosa dos analfabetos, a poesia dos poetas cuja fama lhes vem mais das melenas e da pose, que do sumo que escorrre do seu hermetismo.


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in "O Francesismo"