quarta-feira, julho 16

Diário (2)

Era daquelas amizades que não se sabe como nascem. E amizade não é bem o termo. Anos atrás aconteceu falarmos, depois houve uma vaga troca de gentilezas, dois ou três encontros, creio também que um jantar ou dois.
Esquecia-o, mas lá trazia o correio um recorte de jornal onde o mencionavam, um opúsculo com os seus poemas, maus poemas, um livrinho de contos, maus contos…
Eu agradecia a oferta e a dedicatória com palavras banais, e voltava a esquecê-lo. Depois houve um longo período em que telefonava com frequência. O intróito eram as perguntas sobre a saúde. Queria também saber se o que agora me ocupava era romance, conto ou novela. Finalmente, se eu já começara a preparar material para aquela ideia que ele tinha tido de escrever a minha biografia.
Respondia-lhe com evasivas. Ontem chegou-me a notícia de que faleceu e não posso negar o alívio que sinto.