segunda-feira, fevereiro 8

Bilhete

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Querida Teresa,
Aquilo de o sujeito ser "o maior" é uma ingenuidade, opinião de inocente que tem pouca consciência das coisas do mundo. Ninguém é "o maior", quanto mais não fosse senão pela probabilidade de na Amazónia ou na Cochinchina também haver desses.
Que recorde, um que garantia ser "o maior" era o muito chorado Muhammad Ali, e como ele gostava de repetir: "Para seres um grande campeão deves acreditar que és o melhor. Se o não fores, faz de conta".
Isso era no boxe, mas vale para os literatos, os taxistas, os psicólogos e os graduados da GNR.
Beijinhos.

sábado, fevereiro 6

O Meças

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Julguei que iria demorar, e fui descobri-lo aqui.

quinta-feira, fevereiro 4

Livrai-nos Senhor

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O texto que segue foi escrito quatro anos atrás, numa ocasião em que, durante um dia e pico, a Morte (sim, com maiúscula, a de capa negra e foice na mão) se sentou ao meu lado. Medo não senti, antes curiosidade.
Repesco-o agora, em boa saúde, mas arreliado e triste, rogando pragas a todos aqueles que, há quarenta anos, se afadigam a tratar dos seus interesses pessoais, das suas vaidades, das tolas ganas de poderio, e dão de Portugal a imagem de um país que espelha o seu próprio chico-espertismo.

Na minha idade, a morte próxima, tenho horas em que faço contas, revejo sonhos, listo aspirações. Em primeiro lugar o desejo de que a minha morte não seja súbita. Quero tempo para me despedir dos que amo, dos amigos que tenho, horas para recordar os que me fizeram bem, ensinaram caminhos e abriram horizontes.
Quero tempo para rememorar e agradecer a minha vida, aventurosa, variada, rica de paixões, de fúrias, alegrias, negrumes, amores, alturas e precipícios, e que por vezes, como que fora de mim, iluminou o palco e me fez espectador privilegiado do espectáculo.
Quero horas para me despedir do pobre país em que vim ao mundo. Relembrar que o amei como se fosse gente, me senti menino acarinhado e feliz no seu regaço. Que dele aprendi a língua,  única no modo de embalo, aquela que para lá do sentido das palavras deixa entrever os mistérios da música e do eterno.
O país da suavidade, do desespero, dos sonhos infantis, das mãos pobres que um nada enche, do sofrimento envergonhado e amanhãs que nunca chegam.
Irei sem perdoar aos que o rebaixam.

quarta-feira, fevereiro 3

Come quem tem dentes

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Bons missionários eram os de antigamente, que explicavam o modo como, pagando indulgências, mesmo o pecador entrava no Paraíso e tinha lugar  garantido no seio do Senhor.
Foram-se esses, vieram os da política, prontos na explicação de como é fácil entrar no céu que tem os centros comerciais por igrejas e as praias exóticas como lugares de doce penitência.
Essas são as promessas, mas no diário outro galo canta, e assim, pela Europa fora, os governos fazem quanto podem para que o cidadão aperte cada vez mais o cinto, nicles promessas de melhoria, desencante-se quem as espera.
Na Grã-Bretanha, uma das nações europeias onde a desigualdade sempre se fez  mais sentir, calcula-se que 20% dos ingleses não vão ao dentista, arrancam eles próprios os dentes podres, ou encomendam um kit para reparações dentais à firma DenTek, que no ano passado vendeu mais de 250.000 deles e custam uns módicos seis euros.
Em Frinton-on-Sea (cerca de 4.000 habitantes e uma única loja de fish and chips) a municipalidade fechou as duas esquadras da Polícia, os moradores pagam agora três euros por semana a três homens que fazem o policiamento.
No ano passado foram dispensados 17.000 agentes de Polícia, este ano serão uns 22.000. Desde 2010 diminuiu em quase 1 milhão o número de funcionários, os orçamentos das municipalidades sofreram um corte de 50%, em 2020 o aparelho do Estado será comparável ao que era em 1930.
De modo que ao cidadão nada mais resta que desenrascar-se no inferno deste mundo, sem garantias de que no outro a vida lhe seja fácil.

Felizmente em Portugal não será assim, tudo aponta para melhorias.

terça-feira, fevereiro 2

Shit country!

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Como todos os lados têm a sua razão e bons motivos, é pena perdida discutir o problema dos refugiados. O dia chegará em que olharemos para trás, surpresos do que não vimos, recusamos ver, não compreendemos a tempo, perguntando-nos então se foi estupidez, medo ou cobardia.
Entretanto há a avalanche de notícias, reportagens, fotografias dramáticas, mas também os ocasionais faits divers que se testemunham com o misto de irritação e desdém que a arrogância provoca.

Aconteceu a semana passada, mas ainda engulo em seco, continuo incapaz de, como bom cristão, pessoa decente e amigo do próximo, encontrar a boa resposta para os meus sentimentos.
O supermercado é grande, luxuoso, a maioria da clientela tem a aparência e a serenidade que provém da abastança e da boa educação. Nessa tarde andavam por ali umas centenas de pessoas, fazendo calmamente as suas compras, mas no ambiente destoavam os dois homens e a rapariga que iam ao longo das prateleiras como se examinassem os produtos, pegando nisto, desarranjando aquilo, fazendo cair uma ou outra embalagem que deixavam no chão, desarrolhando frascos a fingir que cheiravam, pondo-os depois noutra prateleira.

Teriam à volta de trinta anos, estavam quase elegantemente vestidos, riam alto e muito, falavam árabe, pelo aspecto poderiam ser afegãos, iraquianos ou sírios, notava-se a desagradável, quase agressiva maneira de encarar as pessoas.
De súbito, gargalhando, um deles gritou em excelente inglês: -Yes! We are refugees! And this is a shit country! Believe me, it's a shit country!
Se esperava comoção não resultou, as pessoas desviaram calmamente os olhos e continuaram as suas compras.
- Call de Police! Yes, it's a shit country! – gargalhou ele.
Mas ali não se chama a Polícia por tão pouco e o estabelecimento nem sequer tem seguranças. Veio o gerente que educadamente lhes pediu que saíssem.
E eles saíram, dobrados de riso, deixando uns quantos de nós a perguntar-se o que poderá acontecer quando gente assim for em maioria.

Bem sei, é um caso, nada prova, nada diz. Como nada diz que a coisa de um quilómetro de minha casa haja um acampamento de refugiados onde se vê uma meia dúzia de mastros com as bandeiras pretas e brancas do Estado Islâmico, e onde a Polícia não entra.  
 

segunda-feira, fevereiro 1

Mostra de bom senso

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Boa notícia. Porsche não tem intenção de desenvolver ou produzir carros sem condutor. "Um Porsche é para conduzir", afirmou hoje Oliver Blume, CEO da empresa, acrescentando que "um iPhone traz-se no bolso, não é para a estrada".

Manhã de segunda-feira


É fácil escorregar para a melancolia, o cansaço das ilusões perdidas, o amuo dos enganos, das perdas, do desespero. É fácil encolher os ombros, dizer que não vale a pena, sonhar que tudo se arranja, que todo o mal tem cura. É fácil virar as costas, fechar os olhos, fazer de surdo, fingir o sorriso, ter à mão o abraço e o cumprimento.
Grande pena que a facilidade se pague tão caro.