terça-feira, agosto 12

Quarteto


"O Mercedes, uma pechincha, arranjara-lho o Penacova, que fazia biscates numa garagem, e foi mesmo como tinha garantido: azul, cromados, jantes de alumínio, só um dono,  poucos quilómetros, os papéis em ordem. E então, quando lho entregaram, o tal Meisner disse que era preciso festejar, fosse lá comer no sábado.
Perdeu-se, que nunca tinha ido pra aqueles lados, mas depois de muita volta encontrou: casa de dois andares, jardim, um luxo.
Estava o sujeito, a mulher e uma outra dos seus quarenta, forçuda, vestida de motociclista, já tinham começado por aquelas canecas de litro, cerveja boa, e deitaram-lhe o mesmo.
A petiscar disto e daquilo seguiam na conversava, ia topando alguma coisa do que diziam, mas era mais por acenos. Também não faria diferença, mesmo se os entendesse não havia de ser conversa pra ele, de certeza coisa de negócios, de vez em quando escreviam uns números e punham-se a discutir, tão distraídos que nem reparavam que tinha a caneca vazia.
Mas quando viram encheram-lhe outra, logo a seguir veio a comida, uma travessa de Sauerkraut, encheram-lhe o prato como se fosse pra dois. Já a tinha comido na cantina algumas vezes, mas tanta carne e tanto enchido nunca tinha visto, eles a rir, a gostar que mostrasse apetite, provasse tudo, a botar-lhe mais isto e mais aquilo, presunto, orelha, chispe, uma chouriça que sabia a cravinho, e outra vez couve, outra vez batatas, costeletas.
Farto, a rebentar, quando o alemão desapertou o cinto fez o mesmo, as mulheres à gargalhada, tocando-lhe na barriga quando vieram com o café e uma garrafa de aguardente que sabia a pêssego.
Ao segundo copo foi-se-lhe o tino e deve ter demorado a acertar, porque do depois só se lembra que tinham começado na brincadeira das cócegas, aos abraços, a meter a mão aqui e ali, ele a ver onde a coisa ia parar, quando deu conta estava sem calças, a da mota a chupá-lo, os outros já em pêlo a tirar-lhe a camisa.
O quarto parecia o barbeiro: espelho por todo o lado, até no tecto, e a cama,  não fazia ideia que as houvesse daquele tamanho, eles a engatinhar uns por cima dos outros, o Meisner aos berros, Ficken! Ficken!, a empurrá-lo pra cima da sócia, que essa pelos jeitos nem podia esperar e já estava na fressura com a amiga.
Aí sentiu que o filho da puta o queria enrabar, e não esteve com meias medidas: saiu da comadre, agarrou-o pela trunfa e assentou-lhe um directo na cornadura.
A mão a doer e meio zonzo da pinga, ficou à espera do que naquilo ia dar, mas ou o gajo estava ainda mais bêbedo do que ele, ou era maluco de todo, porque se pôs a arreganhar os dentes, como se estivesse no gozo, e ao fim deitou-se de costas, a lambuzar-se com o sangue que lhe escorria do nariz.
Vai não vai, porque ainda tinha vontade, quis meter o escovilhão na da mota, dar-lhe uma esfregadela como deve ser, mas essa também já estava perdida de todo, nem abria os olhos, quando acabou de se vestir estavam os três a roncar."