domingo, junho 26

O meu caso


Bateram à porta. Três. Camisa branca, gravata, calça vincada, pasta debaixo do braço, chapéu de palha. Desejaram-me um bom dia e a paz do Senhor. Agradeci quase de mau modo,  expliquei o meu desinteresse pela oferta da religião, em porta-a-porta ou outra, menti-lhes que de momento me ocupava tarefa mais urgente que o conforto da alma. Insistiram eles. Insisti eu. Embirraram. Embirrei. Finalmente lá se despediram com vénia e bênção
Coisa de minutos chegaram três que, no aspecto e na untuosidade missionária, replicavam os colegas. Repetiu-se a cena.
Buzinou a carrinha do padeiro e fui-me a perguntar se tinha cozido broa. Não tinha. Voltei-me, eram seis as mulheres de idade vária a fazer cerco, desejando-me bom dia e a paz do Senhor, acenando com folhetos, sorridentes, a mais despachada a segurar-me pelo braço, impedindo a passagem.
Aí zanguei-me, mas contive a praga, elas mantiveram o sorriso e a unção.
Não quero ser salvo por seita ou igreja, palavra que não quero, e dispenso intermediários. O meu caso com Deus é assunto particular.