sexta-feira, julho 16

Comentários

É recente, estou a perder mais tempo nele do que devia e, se não me acautelo, corro o risco de ficar com o vício da leitura das caixas de comentários. Não só porque ali há do bom e do mau, o estúpido, o soez, o inteligente e o bem educado, mas sobretudo pelo que permite apreciar do comportamento alheio.

Numa troca de comentários há por vezes mais humor grosseiro do que na comédia bufa e nalgumas sente-se mesmo a vontade que os sujeitos têm de mutuamente se esganar.

As que mais aprecio são aquelas em que os participantes descrevem como que um arco: começam por uma troca de azedumes, sobem aos insultos e terminam num desfecho que, de tão deliciosamente inesperado, deixa de boca aberta. A mim deixa. Ao mesmo tempo que me dá a medida da doce artificialidade com que trocam sorrisos muitos daqueles que gostariam – mas não podem e têm medo – de desandar à bofetada e ao pontapé.

Assim li recentemente uma troca de comentários em que dois cavalheiros se azedavam com a ignorância que o outro tinha do Latim. O tom foi subindo e, palavra puxa palavra, entraram a arrepelar-se, até que um barafustou que ao parceiro faltava tesura, caso contrário não se escondia por detrás dum pseudónimo. Brioso, o acusado, deu o nome. Reparte o outro, dizendo que se tivesse sabido teria usado um tom diferente e aproveitado até para lhe dizer que conhece e aprecia os livros que tem escrito. O visado não quer ficar atrás, quase jura que pensa o mesmo do interlocutor, e acabam em salamaleques.

Agora digam lá: para que há-de ir uma pessoa gastar duas horas num teatro?