domingo, outubro 21

FECHA? NÃO FECHA?

Se fosse loja punha-lhe aquele ambíguo "Volto já". Poderia dizer que entra em hibernação, mas não é bicho. Fechar de vez, também não fecha. Confessar preguiça, aborrecimento, cansaço com o mundo? Tenho disso, mas em pequenas doses.
Vamos então para a simplicidade: por agora "Tempo Contado" fecha, incerto se, ou quando, voltará a abrir.

quinta-feira, outubro 4

Doisneau, Stieglitz, Kudelka...

Sempre desejei saber desenhar, mas nunca pude ir além de rabiscos iguais aos que traçam os miúdos no primeiro dia de escola. Daí o ter procurado compensação na fotografia.
No decurso dos anos contam-se por milhares as fotografias que tirei, e uma ou outra paisagem pareceu-me que não desmerecia, de meia dúzia de retratos também não me envergonhava. Contudo, quando como hoje abro inadvertidamente um dos meus álbuns, só posso abanar a cabeça em descrença. Que falta de talento e de técnica. Que pena tanto dinheiro deitado fora.
Mas sonhar é de graça... Doisneau, Stieglitz, Bresson, Kudelka... e burro velho não toma andadura. Há sempre uma aparelho mais avançado, uma lente que realiza milagres, um livro que promete o impossível: aprender o talento com que não se nasceu.

segunda-feira, outubro 1

Resumo de tragédia

A história é real, trágica, talvez por isso me embaraça o resumi-la numas poucas linhas.
Casou ainda rapaz, deixou a mulher na aldeia e emigrou para a Alemanha. Dezenas de anos viveu lá em solidão. À custa de privações e sacrifícios, trabalhando de dia na fábrica e à noite de porteiro num prédio, conseguiu poupar uma pequena fortuna, garantia de um futuro de vida folgada, paz de espírito e descanso do corpo.
Quando vinha de férias invejavam-no, mas também o admiravam, pois nenhum deles tinha um Mercedes assim, nem conseguira construir casa tão grande e de tanto luxo.
Boa companheira, a mulher trazia tudo num brinco e, por ter instrução, era ela quem tratava com o banco e se encarregava da papelada.
Chegou o dia do regresso definitivo. Partiu da Alemanha com a euforia de ter alcançado o que queria, mas sem saudades, porque não tinha feito lá amigos, nem ninguém sente pena de deixar o degredo.
Na aldeia receberam-no com festa. No dia seguinte, contente como uma criança, perguntou à mulher quanto dinheiro tinham no banco e ela, desvairada, confessou ter perdido tudo no jogo. Nem a casa lhes pertencia, porque estava hipotecada.
Cego de raiva, matou-a. No julgamento ouviu que lhe dera mais de cinquenta golpes com uma tesoura, mas de nada se recorda, porque, como disse em lágrimas ao juiz que o condenou a prisão perpétua, nessa altura também já tinha morrido.