Para muita gente, muita mesmo, o escrever não é trabalho, é coisa para a qual alguns têm jeito, fazem por gosto, até apreciam que se lhes reconheça a habilidade.
Imagino que com outros aconteça igual, mas por mim falo. Amizade, imposição, chantagem, desavergonhadas pressões, abuso de simpatia, de confiança, parentesco, pedinchice, ao longo de tempo perdi a conta dos textos que escrevi de borla.
Convites, folhetos, boletins de paróquia, comemorações, discursos, pareceres, resenhas, requerimentos, histórias para esta e aquela festividade, anúncios de romaria. De vez em quando recuso firme, pois não me vejo a recomendar um restaurante. Também gosto de ver o interlocutor de cara à banda, quando ele espera ter de graça a satisfação do pedido e lhe anuncio o preço. Alguns, de verdade ingénuos, ficam de boca aberta, realmente não faziam ideia de que a escrita, coisa de que toda a gente é capaz, implicasse pagamento. Mas em particular divertem-me os que querem regatear, pedem desconto, consideram extorsão qualquer tarifa que não seja a mesquinhice que propõem.
Esses aprenderiam alguma coisa com a história verdadeira, passada há muitos anos com uma dama da High Society de Nova Iorque, que num fim de tarde, as lojas a fechar, se deu conta de não ter chapéu apropriado para a cerimónia a que ia assistir.
Correu a um costureiro, então jovem, mas já de fama, explicou-lhe o aperto, e ele, olhando como a senhora estava vestida, pegou numas fitas de seda, enrolou-as, pôs-lhas na cabeça e aproximou o espelho.
Extasiou-se a senhora. Aquilo era criação genial, espectacular, uma beleza de incrível simplicidade. Admirou-se uma vez mais, nem sequer tinha coragem de lhe mexer. Perguntou quanto devia.
O costureiro nomeou o preço, e a madame, em choque, esquecida das boas-maneiras, deu um berro. Impensável! Roubalheira! Semelhante importância por duas fitas?
Então o jovem costureiro, muito ciente do seu talento e com elegância no modo, pegou no chapéu, desfê-lo, entregou as fitas à senhora:
- Pode levar. As fitas são de graça,