terça-feira, fevereiro 12

Há sabores e há saber


Há sabores e há saber

Em Dezembro causou agitação o Primeiro-Ministro ter afirmado que 2017 foi um ano “particularmente saboroso”, mas longe de mim ir eu agora escolher campo, subscrevendo as palavras do governante ou alinhando com os seus críticos. É que se estes últimos têm razão em raciocinar de acordo com a sua sensibilidade ou sentido de justiça, não é menos provável que o Primeiro-Ministro, com assento no que se costuma chamar as altas esferas do Poder, tenha acesso privilegiado a informações que, estivessem elas ao alcance de todos, levariam os seus detractores a mostrar-se compreensivos.
O que à primeira vista se assemelha a um passo em falso, bem pode ter sido apenas deslise causado pelo excesso de entusiasmo, mas com base em decisões e factos – os tais segredos de Estado -  de que nós nunca, ou só passado tempo, chegamos a conhecer.
Como vimos na televisão e lemos nos jornais, não há dúvida que o Primeiro-Ministro, tanto como qualquer um de nós, ficou profundamente chocado com a tragédia dos incêndios no passado Verão. Melhor do que ninguém conhece ele as consequências económicas e sociais da seca que assolou o País, tão-pouco lhe escapam as implicações dos pequenos e grandes escândalos, sejam eles o das viagens dos Secretários de Estado, ­dos paióis de Tancos ou da Raríssimas.
Todavia, se tentarmos encontrar argumentos que justifiquem o azedume dos que troçam do seu folgado optimismo, teremos de concluir que mostram uma venenosa animosidade, pois quando o PM afirma que o ano foi “particularmente saboroso”, de certeza o faz por estar no que se chama “o segredo dos deuses”, conhecendo factos e circunstâncias que lhe permitem exprimir-se com essa segurança.
Isto dito, arrisco uma ideia que, sei-o de antemão, desagradará a gregos e troianos, pois vivemos num tempo que, sendo de igualdade não é de unidade, e em que cada um só considera aceitável a sua razão e desdenha da do vizinho.
No meu parecer devemos tornar-nos comedidos na crítica aos políticos em geral e ao PM em particular. Haverá um erro aqui e ali, uma ou outra falha, um escândalozito, mas do mesmo modo que nenhuma sociedade é perfeita, não se pode esperar que os governantes o sejam.
E a vida dos políticos, com ganhos modestos, afogados de trabalho e  responsabilidades – metam a mão na consciência e respondam francamente – será de invejar? Fazem eles agora quanto podem para corrigir as finanças dos partidos, e vêm os criticastros com piadas e insultos?
Se fosse comigo bem sei para onde os mandava.