Há sabores e há saber
Em Dezembro causou agitação o
Primeiro-Ministro ter afirmado que 2017 foi um ano “particularmente saboroso”,
mas longe de mim ir eu agora escolher campo, subscrevendo as palavras do governante
ou alinhando com os seus críticos. É que se estes últimos têm razão em
raciocinar de acordo com a sua sensibilidade ou sentido de justiça, não é menos
provável que o Primeiro-Ministro, com assento no que se costuma chamar as altas
esferas do Poder, tenha acesso privilegiado a informações que, estivessem elas
ao alcance de todos, levariam os seus detractores a mostrar-se compreensivos.
O que à primeira vista se
assemelha a um passo em falso, bem pode ter sido apenas deslise causado pelo excesso
de entusiasmo, mas com base em decisões e factos – os tais segredos de Estado -
de que nós nunca, ou só passado tempo, chegamos
a conhecer.
Como vimos na televisão e lemos
nos jornais, não há dúvida que o Primeiro-Ministro, tanto como qualquer um de
nós, ficou profundamente chocado com a tragédia dos incêndios no passado Verão.
Melhor do que ninguém conhece ele as consequências económicas e sociais da seca
que assolou o País, tão-pouco lhe escapam as implicações dos pequenos e grandes
escândalos, sejam eles o das viagens dos Secretários de Estado, dos paióis de
Tancos ou da Raríssimas.
Todavia, se tentarmos encontrar argumentos
que justifiquem o azedume dos que troçam do seu folgado optimismo, teremos de
concluir que mostram uma venenosa animosidade, pois quando o PM afirma que o ano
foi “particularmente saboroso”, de certeza o faz por estar no que se chama “o
segredo dos deuses”, conhecendo factos e circunstâncias que lhe permitem
exprimir-se com essa segurança.
Isto dito, arrisco uma ideia
que, sei-o de antemão, desagradará a gregos e troianos, pois vivemos num tempo
que, sendo de igualdade não é de unidade, e em que cada um só considera aceitável
a sua razão e desdenha da do vizinho.
No meu parecer devemos
tornar-nos comedidos na crítica aos políticos em geral e ao PM em particular. Haverá
um erro aqui e ali, uma ou outra falha, um escândalozito, mas do mesmo modo que
nenhuma sociedade é perfeita, não se pode esperar que os governantes o sejam.
E a vida dos políticos, com
ganhos modestos, afogados de trabalho e responsabilidades
– metam a mão na consciência e respondam francamente – será de invejar? Fazem
eles agora quanto podem para corrigir as finanças dos partidos, e vêm os
criticastros com piadas e insultos?
Se fosse comigo bem sei para
onde os mandava.