quarta-feira, setembro 7

Lotarias

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O meu apreço por provérbios é reduzido, mas este –"'Quem pensa não casa, quem casa não pensa." - desencadeia umas quantas reflexões.
Com a actual liberdade de costumes, a queda de tabus, e a desvalorização de certas regras sociais, o matrimónio não necessita de ser a cadeia que foi, e tantas vezes é. Mas mesmo no melhor dos casos, uma simples estatística o confirmará, a união de duas pessoas apresenta um tal nível de risco que o bom senso a desaconselharia.
As perspectivas do reverso, todavia, são igualmente desanimadoras. Mais do que nunca, a situação de solteiro oferece hoje tantos lados aprazíveis, que mal se acredita que alguém a queira trocar por uma vida a dois. Contudo, passada a fugidia juventude, além de que se põe mais agudo o problema da solidão, começa a desfilar o cortejo das ocasiões perdidas, das possibilidades desprezadas, dos erros e dos enganos, das faltas de coragem. E muito forte terá de ser quem, dobrado o cabo dos quarenta, descobre à sua volta o vazio e não se atemoriza com a visão de um futuro a sós.
Isto, porém, são apenas especulações numa madrugada sombria, pois cada caso é único, cada caso pode fugir à regra. De modo que a conclusão mais sensata talvez seja a clássica, a de comparar o casamento à lotaria: alguns bilhetes têm prémio, outros a terminação, e a maioria sai em branco.