(Clique)
A voz é
suave, quase tímida, a aparência cuidada, calça fino cabedal, veste com
elegância, a verdadeira, a que só dá nas vistas aos iniciados que distinguem os
sinais.
Não tem
mulher nem se lhe conhece amante ou inclinação grega, no particular dos afectos
há nele algo de monástico e, novos ou velhos, machos ou fêmeas, a todos mostra
o mesmo indefinível sorriso, um esgar em que lábios e olhos parecem não ser do
mesmo rosto, pois enquanto os primeiros ligeiramente se movem, a fixidez do
olhar dá calafrios.
É rico, muito
rico, daquela espécie que sabe o valor do dinheiro, porque o primeiro que
ganhou fê-lo a pulso, não se poupando humilhações ou sofrimentos, indiferente a
canseiras e perigos, pronto a esquecer derrotas, capaz de vergar como o
clássico bambu.
Está como
quer, chegou aonde sonhava, mas o gosto de vencer, dominar, tomou-lhe as entranhas,
ai de quem possui o que ele deseja: é então tigre que cheira sangue.
No seu
caminho há mortos e feridos, alguns reduziu-os ele à condição de zombies, uns
quantos vivem no pânico de que um descuido ou acaso os ponha em campos opostos.
Estranhamente,
também tem o seu tendão de Aquiles. Revelou-mo um dia em conversa, não se dando
conta de que o fazia ou, o mais certo, e para ele perigoso, julgando-me incapaz de tirar a conclusão.