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Gasta-se muita
energia a esquecer, a fingir, a perdoar, a manter a calma quando a vontade era
o par de bofetadas, o desdém, virar as costas, mudar de passeio. Gasta-se muita
energia a manter a aparência de paz e harmonia, a fechar os olhos e os ouvidos,
a passar a esponja, a diminuir a fúria ou a escondê-la, a fazer de conta que se
compreende, que se aceita, inventando desculpas, deitando mão de provérbios e
sorrisos, explicações tolas, das diferenças de idade, que os mais novos pensam
diferente porque não viveram aquilo, não estavam lá, falta-lhes experiência.
Assim fosse, mas
assim não é. A estupidez, a arrogância, a segurança dos juízos, a justeza do
ideal, são de todas as idades. Como o é a lamechice do amor aos pobrezinhos,
aos injustiçados, aos famélicos da Terra; o êxtase do folclore revolucionário,
desde que sejam outros a sofrer e a morrer, e a revolução não venha desarranjar
o que tanto custou e tão agradável torna os dias.
Gasta-se muita
energia a viver num mundo de conformidade em que, como alguém escreveu,
"as pessoas constantemente se tocam e se beijam, falam dos seus problemas
como se assim pudessem descrever o mistério da vida, ou negar o caos que ela é…
um mundo em que, cada vez mais, o risco é calculado e, na medida do possível
eliminado, dando lugar a um mundo novo, brando, no qual a visão do preparo de
comida se torna mais emocionante do que a leitura de um poema".
Gasta-se muita
energia a tentar compreender, a aceitar a riqueza da vida.