(Clique)
- Tem seis – diz ela, fazendo beicinho. – Na terceira linha tem de ter tantas como na primeira. Cinco.
Temendo que seja
engano, conta de novo pelos dedos as sílabas do haiku, e de facto são seis.
- Escreve outro –
sugere ele, ao mesmo tempo que faz caretas ao espelho, arreganhando os dentes, a certificar-se que os
lavou bem, que não vê restos de comida.
- Não tenho
inspiração. Mas era mesmo lindo. Go-ta-de-sol-no-mar.
Só ao vê-lo tirar o
pijama parece dar-se conta de que de facto o calor é demais. No ar parado,
abafadiço, há um prenúncio de trovão, e despe-se também.
Deitados, evitam
tocar-se, como se temessem um inesperado crescer de desejo. Ele quebra o
silêncio, mostrando um interesse que não tem:
- Como era o
primeiro verso?
- Tu não gostas de
haikus, pra que estás a fingir?
Um nada, milímetros talvez, e ambos se dão conta de que
se afastam, é ele quem primeiro apaga a luz. Ela sente uma comichão no joelho, mas
evita coçar-se, sem saber porquê.