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A sociedade necessita de mitos, de rituais e espectáculo. Necessita de "grandes figuras", anedotário, de situações que, caso sejam comezinhas, devem ser ampliadas de modo a que falem à imaginação, e mais tarde sirvam de referência aos que as não testemunharam, fornecendo-lhes visões de um ambiente fulgurante, de ideias a chispar, frases e disputas históricas.
Que eu recorde,
nos últimos sessenta anos não houve em Portugal figura literária, actor,
artista plástico, boémio encartado, cujo necrológio não referisse a sua
frequentação do Café Gelo, em Lisboa, e de como nesse café eram brilhantes as
conversas, animadas as tertúlias, se teciam ali planos de conspirações.
Com a morte de
Herberto Helder lá vem o inevitável rodapé: "Torna-se frequentador do Café
Gelo…Senta-se com Mário Cesariny, Luiz Pacheco… e tantos outros que ficaram
para a história como o Grupo do Café Gelo."
Com a idade, não restam
muitas figuras gradas de quem se possa dizer que frequentou o Café Gelo. Mas
não se amofinem os necrologistas: o "Botequim",
que Natália Correia nas décadas 70/80 mantinha na Graça, virá a ser a próxima
referência.