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Neste tempo de sms, likes, emoticons, haverá ainda quem, com pena e papel, se sente a escrever cartas de amor?
Creio que o simples imaginar da cena causa
hilaridade, para não falarmos do perigo que acarreta expor em frases que ficam
– scripta manent – emoções e
sentimentos que, exaltados por natureza, contêm o risco clássico do feitiço que
se volta contra o feiticeiro.
Numa ou noutra altura, em estado febril, provavelmente
quase todos nós, maiores de cinquenta anos, cometemos o erro de caligrafar em
papel acessos de paixão, o mesmo é dizer que nesta e naquela gaveta, ou entre
páginas de sonetos, se escondem umas quantas bombas de relógio. Não das que explodem
em estilhaços e causam mortes, mas das que, como as do gás de mostarda, discretamente espalham o seu veneno.
Imaginem-na, a esquecida namorada,
irreconhecível, tão diferente da jovem que foi, e agora, num gesto de teatro,
espalha sobre a mesa do café umas quantas folhas, em que não só reconhecemos a
nossa letra, mas, bem pior, nos levam a recordar em detalhe quanto nos esforçámos,
buscando-as no dicionário, por encontrar
palavras que, como um vidro de aumento, engrossassem a paixão.