Se há coisa em que demonstro alguma capacidade é no adiamento. A certa altura como que se fez segunda natureza, hoje em dia posso mesmo dizer que me tornei perito.
Não é medo, cobardia ou preguiça, nem sequer fastio. Aprendi, sim, que o gozo maior não vem da coisa feita, mas da espera, e há muito descobri que com a chegada à meta desaparece a excitação da corrida.
De modo que quando alguém me pergunta o que ando agora a escrever, não considero isso prova de interesse ou simpatia, antes me parece uma violação da intimidade. É querer ouvir-me confessar um prazer secreto.