Vivemos em tempo de pobreza, mas o ladrão e o trafulha são, mais que nunca, gente de respeito, reviraram a ordem da sociedade e são eles quem manda.
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"A cidade não deixa possibilidade de escape, cedo ou tarde sempre se arranja maneira de comer, onde morar, que vestir, amar, pensar, de viver cada um à sua maneira. E é na cidade que o ser mais desprezado, o mais infame, o mais ridículo, o mais suspeito, não é o malvado, nem o gangster, nem o polícia, nem o ladrão, nem o rufia, nem o proxeneta, nem a puta, nem o bufo, nem o traidor, nem o verdugo, mas o homem sem dinheiro. Ladrões e assassinos estão dentro da ordem. Participam da comunidade. Claro que são reprovados por não seguirem as regras, mas sobre o dinheiro não se fazem juízos. Não se discute o bezerro de ouro, sim a maneira de servi-lo. Em relação aos ortodoxos o ladrão é um herético, não se perde a esperança de um dia o converter, de o reeducar. Há entre "o sujeito honesto" e o bandido uma espécie de guerra religiosa… Mas o homem sem dinheiro, o pobre, esse é o verdadeiro delinquente, associal e perigoso. Nada o pode salvar. Não é um irmão desencaminhado, é um selvagem."
Salvat Etchart (1924-1985) recebeu em 1967 o Prémio Renaudot pelo seu romance Le Monde tel qu'il est.