terça-feira, outubro 31

Um texto de antologia

 

"Em Israel não existem humanos, apenas soldados; não existem casas, apenas tanques; não existem mortos, apenas estatísticas. Não há mater dolorosa israelita neste conflito: toda a Pietà é palestiniana." Aqui

 

domingo, outubro 29

Assino por baixo

 

“Globalmente, no universo das rivalidades, no panorama das relações internacionais, estou do lado de Israel. Não porque esteja sempre de acordo com os seus governos. Não porque aceite tudo quanto fazem. Também não por tudo o que são e defendem. Nem por serem brancos. Nem ainda por terem sido vítimas de perseguições, de expulsões e de massacres. Mas apenas e tão só porque, tudo somado, Israel está mais do lado da liberdade e da democracia do que os outros países seus rivais, adversários e inimigos. Em caso de divergência e luta, não é a cor da pele, a religião, a tradição, a etnia e a língua que me fazem tomar partido ou simpatizar com uns, em detrimento de outros. É o lado da liberdade e da democracia. Em caso de conflito, nenhum critério, pele, língua, etnia ou religião, me faz tomar partido por um qualquer país, em qualquer parte do mundo, Rússia, China, América ou África. Mas a democracia, sim. Não tenho dúvidas: em última instância, Israel fará sempre mais pela democracia do que o Hamas, o Hezbollah e os governos do Irão, da Síria ou da Rússia. Como também não tenho dúvidas em condenar a política do governo de Israel e de Netanyahu relativamente aos colonatos, ao reconhecimento do Estado da Palestina e ao embargo contra Gaza. Mesmo assim, estas políticas não são argumento suficiente para ter uma qualquer simpatia por quem quer destruir o Estado de Israel. E nem mesmo a compaixão pela sorte do povo da Palestina me faz acreditar no Hamas e desejar a extinção de Israel.” Aqui

 

 

 

A cegueira das certezas

 

Tão firmes se sentem os fanáticos nas suas certezas, que argumentar com eles é tempo mal gasto. Alem disso, o que por vezes parecia simples cavaqueira, ameaça então terminar aos berros e insultos, de modo que o mais avisado é fazer de surdo, ou deitar água na fervura, em caso nenhum cair na asneira de continuar a discussão.

Agora que abundam as circunstâncias de escolher campo, não vejo cómico que consiga ser tão divertido como um fanático. Não desses fanáticos que torturam e degolam, mas o fanático em versão simplória, como o do futebol ou dos Rolling Stones, e sobretudo o da política, filiado em partido. Esse endeusa tudo, mas mesmo tudo o que o partido decide, certo e seguro que o líder trilha o caminho exacto, só ele está na posse da milagrosa bússola que, sem falha nem desacerto, invariavelmente aponta para o norte das decisões sábias, das medidas certas, necessárias para o bem-estar e felicidade geral.

Diverte-me em particular o fanático que, sem falsa modéstia, se considera perspicaz e inteligente, porque esse deixa aperceber na vida política, sobretudo nas estratégias e medidas que o seu partido recomenda, possibilidades idênticas às de um dia se conseguir realizar a quadratura do círculo, a Coreia do Norte aliar-se aos Estados Unidos, ou encontrar prova do monstro de Loch Ness ser lampreia extraterrestre.

Entre as minhas relações conto dois desses extravagantes, mas não há indiscrição em revelá-lo, e perigo de perder a sua amizade também não corro, pois mesmo se me desse para lhes gritar que são tarados, eles nem por sombras acreditariam.

É que o fanatismo, e o da política partidária é felizmene dos mais mansos, tem por vezes isso de maravilhoso: causa uma cegueira igual à das grandes paixões que nas óperas se contam e cantam.

 

 

sábado, outubro 28

Ninguém a vê

 

Acontece, recorda-se como foi, pouco a pouco vai subindo o desejo de confidência, a vontade de alívio, de pôr fim à opressão do peito e à sarabanda de pensamentos.  E então decide-se pelo silêncio. Cala-se a dor, a desilusão, cala-se a memória do instante em que nos vimos como os outros nos quiseram ver: insignificantes, apagados, perdidos no meio da alegria alheia, desorientados pelo burburinho, esquecidos, invisíveis, postos de lado na festa que parece ser sempre deles, de todos os outros, e onde por rotina ou acidente nos convidaram, um no meio de cem, de trezentos, de mil.

De nada adianta chamar com os olhos, sorrir com os lábios, fazer os mesmos gestos, porque é  facto: a verdadeira solidão, a que dói, ninguém a vê, não tem cura.