sábado, outubro 28

Ninguém a vê

 

Acontece, recorda-se como foi, pouco a pouco vai subindo o desejo de confidência, a vontade de alívio, de pôr fim à opressão do peito e à sarabanda de pensamentos.  E então decide-se pelo silêncio. Cala-se a dor, a desilusão, cala-se a memória do instante em que nos vimos como os outros nos quiseram ver: insignificantes, apagados, perdidos no meio da alegria alheia, desorientados pelo burburinho, esquecidos, invisíveis, postos de lado na festa que parece ser sempre deles, de todos os outros, e onde por rotina ou acidente nos convidaram, um no meio de cem, de trezentos, de mil.

De nada adianta chamar com os olhos, sorrir com os lábios, fazer os mesmos gestos, porque é  facto: a verdadeira solidão, a que dói, ninguém a vê, não tem cura.