Uns gritam-no, para que o mundo saiba que são da Esquerda. Dizem outros que são da Direita. Há-os do Centro, há os hesitantes, há a massa anónima que manda no voto e a quem os lados interessam muito menos do que o pão-nosso.
Na juventude, com pressa de salvar o mundo, fui da Esquerda, mas tão crítico que os camaradas, erguendo o punho em sinal da cruz, fugiam de mim como da peçonha. Da Direita nunca fui, porque nela, entre os bons, assenta um tipo de gente que me põe a vomitar do corpo e da alma.
Continuo assim a ir sem pertenças, apoios, ou fanatismos, olhando em redor, ora divertido com as carambolas que dão uns e outros, sofrendo de vez em quando com o que não posso remediar.
Ocorre-me isto a propósito de uma entrevista com Jan Fleischhauer, homem da Direita e redactor do muito liberal semanário alemão Der Spiegel. Dessa entrevista retiro estas passagens:
- Porque razão se sente a Esquerda moralmente superior?
- Porque para a Esquerda é essa a única via justa. Que pode haver de melhor do que nos sentirmos moralmente superiores? Nesse sentimento baseia a Esquerda a sua pretensão de não agir para o seu próprio interesse, mas de fazê-lo para o interesse de outros. Um fingimento.
- Porque será que a Esquerda tão dificilmente consegue rir de si própria?
- Porque que luta diariamente contra o Mal. Cada dia pode ser o Dia de Juízo. Há constantemente forças poderosas, como o Capital, que têm por único fito esmagar a Esquerda.
Fleischhauer fazia ainda interessantes considerações sobre como reputados políticos de Esquerda, por exemplo o ex-chanceler Gerhard Schröder e o ex-ministro Joschka Ficher ganham a vida como representantes de poderosos grupos industriais; e outros comentários sobre a contradição das vidas que os líderes esquerdistas levam e aquela que pretendem levar.
Lida a entrevista, pronto me vieram à mente umas quantas figuras de salvadores deste nosso desgraçado país.