Tinha dezanove quando começou, trinta e dois quando se deu conta que aquilo não podia durar, um namoro de mãos dadas, passeios ao domingo, beijos na face, os pais de ambos a fiscalizar, calculando as posses, falando de netos, o rapaz nada interessado em assuntos de fornicação e procriação. Cortou de vez. E porque é bonita, inteligente, despachada, com simpatia que baste, em poucas semanas tinha um no anzol.
Foi isso meses atrás. Agora, com a inocência de quem durante demasiado tempo foi virgem, quer que se lhe explique porque razão o sexo não é como sonhara, nem como apregoam. Zanga-se ao ouvir que, tirante milagrosos momentos, em geral o sexo não é coisa de dois, sim de um mais um, cada parceiro com a sua solidão, sensível a odores, sussurros, palavras, pensamentos, memórias, perguntando-se se está a fingir, se o outro finge, penosamente desfiando a lista dos porquês, seus e alheios.
Desagrada-lhe a crueza. Diz que não pode ser, é maldade, ninguém tem o direito de negar o poder da esperança e do sonho.
Assim seja. Esqueceu o que tinha perguntado, não quer resposta, dispensa a paráfrase de Raymond Carver: de que falamos nós quando falamos de amor e de sexo?