— Não sabes mentir.
— Não sei?
— És um livro aberto.
Chamou o cachorro e beijou-lhe o focinho, fechou-o no pátio, veio depois para junto dele, travessa, a prendê-lo pelas costas da camisa e, obrigando-o a levantar-se — «Vorwärts!» — foi-o empurrando para o quarto.
Quando acordaram começava a escurecer, Lena correu a abrir a porta ao Fred, que dum salto se aninhou entre eles, a gozar o quente.
— Então não sei mentir?
— Não, Sammy, não sabes.
— O meu nome é Samuel. Sammy era aquele preto zarolho que cantava muito bem. Amigo do Sinatra. — Sammy Davis.
— Esse. Na Guiné a gente ouvia-o no rádio.
— Se me apetecer chamar-te Sammy, chamo-te Sammy. Mandas em mim?
— Um dia destes vou mandar. Não faças cócegas!
— Mandar em mim? Experimenta e arrependes-te.
Desviou o cinzeiro para que Fred não lhe mexesse, lembrou--se do que queria perguntar:
— Ó Lena, a mala que te pedi para guardares, onde é que a puseste?
— No sótão. Aquilo é chumbo? Vi-me mal para subir a escada.
— Não a abriste?
— Claro que não.
— Depois mostro-te. É melhor tirá-la daqui, queria saber se a podes levar pra uma dessas casas que ficam vazias dois ou três meses. Meio ano ainda é melhor.
— Posso.
Da vida de Lena pouco sabia, mas de mulher que vê uma mala cheia de armamento não esperava tanta calma, menos ainda que soubesse o que era uma Parabellum, e dissesse, sorrindo, que num aperto hesitaria entre a Glock e a Tokarev. A Beretta era bonitinha. Pela Llama e a Astra 600 não daria vintém. — Porquê? Por serem espanholas?
— Não. Coisa minha.
— Sabes muito de pistolas. Onde aprendeste?
— No infantário.
Deu uma gargalhada e não adiantou mais.
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in Mentiras & Diamantes